2011-09-12

Bilingue/ Now in English as well

Reparei que ocasionalmente tenho visitantes de países cuja língua oficial não é o português. Por esse motivo, decidi que de agora em diante a maioria das mensagens neste blog será bilingue: para além da usual versão em português, publicarei mensagens também em inglês.

English:

Having  noticed that I have some visitors to this blog (mostly atracted by my Taisho-en material) residing in countries where the official language is not Portuguese, I have decided to publish henceforth most of the messages in English as well. You can see in the title when a message is available in English; the corresponding text can be found at the bottom of the message, right after the part written in Portuguese.

2011-05-27

Back in business!

Pois é, estou de volta. Esta semana consegui recuperar a minha vida própria e voltei a dedicar mais tempo ao bonsai. A primeira mensagem é uma actualização do estado de um ácer tridente:



É uma árvore que continua a evoluir bem e que este ano deve atingir um nível avançado de refinamento.

2011-02-05


Devido à enorme carga de trabalho que terei nos próximos meses, este blog estará encerrado. Com sorte, a partir de Julho poderei voltar a abri-lo e a publicar de forma regular. Até lá.

2011-01-04

2011 - uma foto por dia

Neste blog de vez em quando fujo um pouco ao tema do bonsai, usando uma qualquer desculpa esfarrapada. A última vez foi a propósito do livro Kyoto de Yasunari Kawabata. Desta vez uso como pretexto um projecto paralelo para 2011 que iniciei há 3 dias.

Como resolução de ano novo, decidi tirar pelo menos uma fotografia todos os dias de 2011 e publicá-las num álbum online. Para além do bonsai, a fotografia é algo que me interessa muito, mas a que não dedico tanto tempo como gostaria - pelo menos não o suficiente para justificar o meu investimento em equipamento. Para além disso, preciso de melhorar a minha técnica e de encontrar mais motivos fotográficos no meu dia a dia.

Ficam prometidas algumas fotografias sobre bonsai. O projecto pode ser seguido neste blog através do insert da coluna da direita. Espero chegar a 31 de Dezembro com 365 fotografias...


2010-12-16

Taisho-en

Evolução de um Juniperus chinensis "itoigawa"

A árvore como me chegou às mãos, antes de qualquer trabalho:


Após o primeiro trabalho:


Decidi fazer um transplante sem corte de raízes por esta altura para substituir o substrato por kiryu puro. A akadama estava a degradar-se rapidamente devido às chuvas intensas que temos tido na Madeira e não quis arriscar. Quando transplantei apercebi-me de que a árvore caberia num vaso muito mais pequeno. Mudei para um pequeno Tokoname que tinha, mudei o ângulo, comprimi um pouco mais e eliminei ramos desnecessários. O resultado para já é este:


Hoje apercebi-me de duas fissuras que surgiram no tronco devido à compressão adicional... pelos vistos eu devia ter esperado mais algum tempo (surgiram no mesmo local onde tinha aparecido a primeira fissura na altura do primeiro trabalho), mas ainda assim acredito que nada de mal acontecerá, uma vez que as fissuras são longitudinais ao trajecto da veia viva. Mas sinto que estou a trabalhar a árvore no limite e conscientemente não faria isto... vamos esperar que corra tudo bem.

2010-12-14

Wabi Sabi

Yasunari Kawabata é um dos meus escritores preferidos. Kyoto é de uma beleza extraordinária. É por muitos considerada a obra prima do escritor, a grande responsável pelo seu prémio Nobel em 1968. Kawabata nasceu em Osaka em 1899 e suicidou-se via harakiri em 1972.



Recentemente redescobri, na primeira página do livro, um texto que é na minha opinião uma excelente ilustração do sentimento wabi-sabi. Tenho pena de não poder ler o original em japonês, há sempre algo perdido na tradução. Assim começa a obra:

Chieko descobriu as violetas que floresciam no velho tronco do carvalho.
«Floriram também este ano.» Com estas palavras foi ao encontro da doce Primavera.
Em relação ao pequeno jardim da cidade, aquele carvalho era bastante grande, mais robusto ainda que as ancas de Chieko. A sua casca, velha, rugosa, salpicada de musgo, não se podia porém comparar ao corpo jovem e fresco dela.
Arqueada para a direita até ao nível das ancas de Chieko, a árvore começava a dobrar-se precisamente à altura da cabeça da rapariga: era a partir daqui que nasciam os densos ramos, que iam abranger quase todo o jardim. Os mais compridos pendiam um pouco. Logo abaixo do ponto em que se curvava amplamente sobre a direita entreviam-se duas pequenas cavidades: destas despontavam, distantes uma da outra, duas violetas. As duas plantas floriam todas as Primaveras. Chieko recordava-se de as ter visto sempre ali, naquela árvore.
Entre a violeta de cima e a de baixo havia uma distância de trinta centímetros. Agora, em plena florescência, Chieko olhava-as. A de cima encontrar-se-ia alguma vez com a de baixo? Conhecer-se-iam? Mas, por outro lado, que quereria dizer encontrar-se ou conhecer-se para as violetas?
Todas as Primaveras nasciam três, cinco flores, não mais. Mas, de qualquer modo, na árvore, naquelas pequenas cavidades, todas as Primaveras brotavam os botões e depois as flores. Chieko contemplava-as, umas vezes da varanda, outras quando se encontrava junto da árvore; sentia-se impressionada pela vida das pequenas plantas; de vez em quando era invadida pela solidão em que elas cresciam.
«Nascer num sítio daqueles e continuar sempre ali a viver...» Os clientes que se demoravam na loja exprimiam a sua admiração pelo carvalho, contudo quase nenhum deles dava pelas violetas. Velho, nodoso, coberto até acima de musgo, e por isso tanto mais digno e atraente, o carvalho, comparando-as com ele, as violetas que hospedava eram a imagem da humildade.

2010-09-09

Erica platycodon

Esta urze sofreu a sua primeira estilização há cerca de duas semanas. Foi um trabalho leve, essencialmente poda, posicionamento dos ramos primários e secundários, limpeza da madeira morta e veias vivas, etc. A planta já está a responder com muitos rebentos, a maior parte deles de madeira velha.

Fica uma foto:



...e um vídeo (em fullscreen HD no youtube):



Tentei dar grande dinamismo à composição e um estilo que não é bem definido - algures entre han-kengai, shakan, fukinagashi e bunjin. Quis dar-lhe um ar selvagem, por isso há alguns ramos cruzados e algumas "regras" quebradas. Acham que funciona? A inspiração foram as urzes que crescem nas montanhas da minha ilha (muitas delas arderam recentemente, incluindo um núcleo de exemplares centenários a 1700m de altitude perto do Pico Ruivo, a terceira montanha mais alta do país). Ficam duas fotos de urzes na natureza (a primeira E. arborea, a segunda E. platycodon):





Estas árvores crescem nas escarpas e levam com derrocadas, chuvas muito intensas e outras árvores em cima durante o Inverno. Aquirem muito carácter com o passar dos anos. São a espécie mais abundante na Madeira acima dos 1300m de altitude.

Quanto a vaso... se calhar aquele que neste momento é a escolha mais provável causará polémica (julgando pelas reacções de algumas pessoas com quem já falei). Descobri um ceramista americano, Chuck Iker (http://www.ikerbonsaipots.com/), que é muito bom a criar texturas que lembram as rochas basálticas da Madeira. Julgo que estes vasos estão algures entre o estilo clássico e o vanguardismo dos vasos de Mateusz Grobelny, que tanta tinta têm feito correr. Ou não... :)

O David Carvalho fez um virtual da urze no novo vaso, à escala (obrigado David!):



Alguns detalhes:





O vaso é algo masculino e agora pode parecer grande demais para a planta (e se calhar é 2 ou 3 cm demasiado grande). Acredito, ou espero, que quando a folhagem fechar as coisas vão ficar equilibradas. Como a composição é muito dinâmica, achei que era necessário um vaso que desse estabilidade ao conjunto. A escolha por aquela cor e textura torna-se óbvia depois de ver as fotos das urzes nas montanhas que mostrei acima

2010-08-09

Itoigawa I



Este itoigawa está comigo desde Outubro de 2008. No início, em Novembro de 2008, o seu aspecto era este:


Depois da primeira intervenção:



Em Junho de 2009 o Rui Fernandes e eu pudémos contar com a ajuda do Mário Eusébio, que nos visitou na Madeira. O Mário deitou as mãos a este junípero e o resultado foi... muito bom.  :D A frente preferida do Mário:

A minha frente:




Entretanto todos os arames foram removidos, estavam a marcar, e transplantei para um vaso de bonsai. Cultivei-o em kiryu puro no ano anterior porque a árvore trazia alguma "papa de akadama" e não quis correr riscos. As raízes cresceram imenso e decidi continuar a cultivar com kiryu puro...












No início de Fevereiro de 2009 chegou um "carregamento" de arame de cobre chegou e eu deitei logo as mãos a este junípero. Havia qualquer coisa que me dizia que o ramo da esquerda não devia ser removido. Segui o instinto, mantive o ramo mas retirei o da direita. A árvore foi comprimida através de dois tensores. A altura actual é de 23cm  (antes era cerca de 28cm). O resultado foi este:


A tempestade de 20 de Fevereiro de 2010 forçou um restyling a este junípero. A planta levou com um enorme pedaço de betão em cima, talvez com 100kg, que caiu de uma altura de 5m directamente em cima do topo. Pensei que a árvore fosse morrer, mas não... perdeu "apenas" o topo e 3 ramos e puxou crescimento novo com grande vigor.

O estado actual é este, já depois de uma aramagem apenas para posicionar de forma grosseira os ramos, falta ainda aramagem de detalhe mas ainda é cedo demais para isso. Os ramos da direita precisam de ser baixados mais um pouco, acho eu.




Entretanto estive a pensar no problema da reconstrução do topo e hoje cheguei à conclusão de que era necessário recorrer a enxertos. Avancei com o enxerto do rebento mais vigoroso que a árvore tinha, crescia na extremidade do sashi-eda. Em breve publicarei fotos com a actualização.

Nunca tinha realizado nenhum enxerto com esta técnica, mas quando estive em Taisho-en vi muitos e pedi a Oyakata que me explicasse como eram feitos. Pus em prática o que aprendi (por acaso a técnica está muito bem documentada no livro Bonsai Masters' Series - Junipers) e agora é esperar. Se correr mal o plano B é enxertar por aproximação na próxima época um ramo que está próximo. Quis ganhar experiência com a técnica que nunca tinha experimentado.

Erica platycodon I

Esta urze já se encontra recuperada - encheu completamente o vaso de raízes tão finas como cabelos. Vi raízes em abundância a sair pelos orifícios e decidi mudar de vaso sem perturbar as raízes para permitir um reposicionamento do tronco e a eliminação de uma camada superficial de solo que era desnecessária. Quando levantei a planta do vaso o solo vinha todo agarrado às raízes. O crescimento novo atinge em alguns ramos 15cm de comprimento.

Já comecei gentilmente a trabalhá-la, nomeadamente a reposicionar alguns ramos maiores e a eliminar outros que não eram necessários. O aspecto actual é este:


A frente definitiva será provavelmente mais à esquerda do que na foto acima. Parece-me que vou optar pelo han-kengai, isso permitirá aproveitar melhor o nebari e realçar o movimento do tachiagari.

2010-08-08

Inspiração para bonsai

Há árvores na natureza que são verdadeiras fontes de inspiração, que conseguem até mudar a forma como olhamos para as "regras" e para material em bruto. Tenho a sorte de viver perto de um núcleo de árvores dessas.

Na Madeira há um local que se chama Fanal, fica na encosta norte da ilha em plena Laurissilva - a nossa floresta endémica classificada Património Natural pela UNESCO. O sítio está normalmente coberto de nevoeiro, mesmo que 200m ao lado não se veja uma única nuvem no céu. A altitude é de cerca de 1000m e o planalto do Fanal é sobranceiro a um desfiladeiro muito profundo, talvez por essa razão haja constantemente nevoeiro. O Google Earth permite uma exploração engraçada do dramático relevo do local. No mapa abaixo, o Fanal está ligeiramente à esquerda e abaixo do centro da imagem.


Ver mapa maior

Recentemente consegui apanhar o Fanal sem nevoeiro - a última vez que me lembro de isso ter acontecido foi na altura da visita do Mário Eusébio. Tirei várias fotografias, que seguem abaixo, mas que de forma alguma fazem justiça às árvores.























2010-08-07

Nova vida

Este blog foi criado para que a minha família e alguns amigos próximos pudessem seguir o meu percurso diário enquanto estive em Taisho-en. Quando regressei a casa, em Setembro de 2009, deixei o blog parado. Hoje decidi reactivá-lo, torná-lo público e fazer dele um espaço para o registo da evolução das minhas plantas e de tudo o que eu faça que possa estar relacionado com bonsai.

Dia 17

Hoje acordei bem cedo. Arrumei todas as minhas coisas na véspera e esta manhã preparei o apartamento onde fiquei para receber os próximos alunos de Oyakata. Cheguei a Taisho-en às 5:30 da manhã e encontrei Oayakata a dormir no sofá - mais tarde soube que tinha chegado pouco tempo antes da viagem a Hiroshima.

Depois das minhas tarefas de limpeza, ajudei o resto do pessoal a descarregar a carrinha. Muitas árvores, todas excelentes, todas shohin. Estive a assistir Oyakata que decidiu meter logo mãos à obra e estilizar umas quantas, ainda mal tinham saído da carrinha.

Tirei as últimas fotografias, fiz os últimos vídeos... e num instante, eram já 12h. Oyakata, por ser o meu último dia, levou todos a almoçar num restaurante na baixa de Shizuoka. Depois do almoço deixou-me na estação de Shizuoka e disse-me para regressar tantas vezes como eu quisesse e que a melhor altura para vir é durante o Outono, especialmente para trabalhar os áceres que são os meus preferidos. Despedimo-nos rapidamente.

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Asanuma-san ajudou-me a comprar o bilhete de Shinkansen para Tokyo. Pouco depois, estava a bordo do comboio, incrédulo por realmente ter vivido esta experiência.

A viagem passou num instante. Às 14:30 estava a chegar ao meu hotel em Tokyo (* o meu voo sai de Narita às 11:00 do dia seguinte e a viagem de comboio até ao aeroporto demora 80min, por isso tive que vir para Tokyo na véspera *) e às 14:45 já estava a revisitar a Ginza, o palácio Imperial e toda aquela zona próxima da estação de Tokyo.

A cidade é fantástica. Tem cerca de 40 milhões de habitantes e um grau de organização que incrível. Não há criminalidade. O tradicional e o hi-tec vivem em perfeita simbiose - vi dois monges budistas, trajados, a entrar no edifício da Sony! Perdi a conta ao número de pessoas que encontrei vestidas com o traje tradicional.

Revisitei muitos locais, jantei e fui dormir.

Os jardins do Palácio Imperial, onde vive (oficialmente) o Imperador do Japão:


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A Ginza:

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Cerca de 40 horas depois estava em casa, chocado com a má qualidade das minhas árvores. Decidi reformular quase todas.

A experiência em Taisho-en superou todas as minhas expectativas. Apesar de lá ter estado apenas 17 dias aprendi imenso e tive oportunidade de contactar com árvores estupidamente boas. O convívio com o meu Mestre foi fantástico.

É uma experiência que recomendo vivamente a qualquer bonsaista.